Entrevista com a professora e farmacêutica Dr.ª Deuzilane Nunes
A professora e farmacêutica Deuzilane Nunes compareceu na sede do CRF-BA, no dia 09 de março, para receber a medalha e o diploma da Comenda do Mérito Farmacêutico, pois não pôde estar presente na noite do dia 23 de janeiro.
A equipe de comunicação do CRF-BA realizou uma pequena entrevista com a farmacêutica, que possui mestrado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Ceará e doutorado em Ciências Médicas pela UFC. Além de professora adjunta do Curso de Farmácia e da Residência Multiprofissional em Intensivismo da Univasf, a Dr.ª Deuzilane desenvolve projetos de pesquisa e extensão no contexto de inclusão social e acessibilidade na área de Assistência Farmacêutica, com ênfase na Promoção do Uso Racional de Medicamentos e na Farmácia Inclusiva.
Como você se sentiu recebendo essa homenagem?
Muito honrada e feliz em receber a Comenda ao Mérito Farmacêutico pelo Conselho Regional de Farmácia da Bahia. Não consigo descrever em palavras a emoção que é receber pela primeira vez tão destacada honraria. Sinto que esta comenda demonstra a valorização das práticas de inclusão. Percebo, assim, que a semente da inclusão farmacêutica, que é o sonho no meu coração e no de muitas outras pessoas que já foram sensibilizadas, está se multiplicando, e creio que avassalará o mundo.
Qual é a sua maior motivação para atuar na área farmacêutica?
Acredito na educação, no poder multiplicador que possui. Por isso, minha maior motivação é ajudar a formar farmacêuticos, profissionais de saúde, verdadeiramente humanizados, disponíveis a cuidar e amar, e inclusivos. Realizo-me neste processo da busca pela educação farmacêutica inclusiva, pela prática do cuidado farmacêutico humanizado a toda a sociedade, pessoas com ou sem deficiência. Assim como Paulo Freire, “Me movo como educadora, porque, primeiro, me movo como gente.”
Como diz Judite Hertal, “Como as aves, pessoas são diferentes em seus voos, mas iguais no direito de voar.” O farmacêutico brasileiro, então, precisa romper definitivamente com o paradigma da normalidade, instigando o pensamento crítico e reflexivo, e avançando na perspectiva social de tornar-se FARMACÊUTICO PARA HUMANOS, sejam eles com ou sem deficiência, garantindo o direito de voar e de cuidar da sua saúde a todas as pessoas. Continuemos sonhando, trabalhando e acreditando.
Você dedica ou agradece a alguém por ter recebido essa homenagem?
Agradeço a várias pessoas, não trabalho sozinha e jamais trabalharei sem outras mãos a me ajudarem. Assim, enalteço meu agradecimento primeiramente a Deus, que me ensina, a cada dia, o verdadeiro sentido da vida. Agradeço aos membros da Diretoria do Conselho Regional de Farmácia da Bahia, Presidente Álan Brito, Vice-Presidente Angela Maria Pontes, Secretário-Geral Cleuber Fontes, Tesoureiro Mário Martinelli Júnior, e também a todos os Conselheiros e funcionários.
De forma especial, agradeço a Mário Martinelli Júnior, que me indicou a receber esta comenda, e que, durante meus quase sete anos de caminhada na educação farmacêutica no sertão nordestino, baiano e pernambucano, vem apoiando e acreditando em meus sonhos para a profissão farmacêutica. Ele nunca mediu esforços em estar junto em todas as ações.
As ações que justificaram a concessão desta honraria foram realizadas a muitas mãos, sendo, desta forma, justo compartilhar, principalmente, com discentes da Univasf, colegas professores do Colegiado de Farmácia e de outros cursos, técnicos, e, enfim, com toda a comunidade acadêmica. Quero destacar aqui o papel dos integrantes e colaboradores do Centro de Informações sobre Medicamentos (CIM) e do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da Univasf. É importante enfatizar ainda a colaboração de farmacêuticos do Conselho Federal de Farmácia e dos Conselhos Regionais, em especial ao da Bahia e de Pernambuco, o mérito desta comenda. Não vou citar todos os nomes, mas não posso deixar de realçar Karla Danielle Luz, amiga, psicóloga e docente da Univasf, o Professor Tarcísio Palhano, nosso ícone da farmácia clínica brasileira, e ao Dr Walter João, presidente do Conselho Federal de Farmácia, que são molas propulsoras para os avanços inclusivos da profissão farmacêutica e tornaram-se minhas maiores referências pessoais e profissionais.
Interpreto também a Medalha agora recebida, como uma homenagem que o Conselho Regional de Farmácia da Bahia presta, por intermédio da minha pessoa, a todas as pessoas com deficiências, que vivem à margem da sociedade em âmbito sociocultural, de saúde, de trabalho, de vida. É um reconhecimento da importância do cuidado integral à saúde para todas as pessoas, aquelas com e sem deficiência, as que enxergam e os cegos, os que andam com pernas ou com rodas, os que falam com sons audíveis e aqueles que emitem sinais espaço-visuais, a todos os seres humanos sem distinção.
Imagino ainda que esta medalha é, de forma muito genuína, para minha mãe, Maria Dalva Muniz, a primeira pessoa com deficiência que chegou na minha vida. Com ela, aprendi a ser os seus olhos, a me colocar no lugar do outro, a enxergar pelo outro. Com ela, vivi a perda lenta e dolorosa da visão, quando aprendi, mais ainda, a honrar a confiança do outro, quando ela sempre confia cegamente em mim. Com ela aprendi a me doar pelo outro, mesmo quando pareço não ter nada a dar. Nestas doações, na verdade, quanto mais me doou, muito mais tenho recebido e aprendido.