Farmacêuticos são essenciais em Unidades de Terapia Intensiva e Emergência
Farmacêuticos são essenciais em Unidades de Terapia Intensiva e Emergência
A terapia intensiva é uma especialidade clínica que se originou na década de 1950, nos Estados Unidos. Seu objetivo é o cuidado ao paciente com risco iminente de morte; ou seja, que apresente instabilidade fisiológica, falência orgânica e que tenha necessidade de suporte e vigilância/monitoramento contínuo.
Com o aumento da terapia intensiva no Brasil, foi criada a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Com o passar dos anos, outros profissionais da saúde foram incorporados à equipe de cuidados intensivos. O departamento de farmácia clínica da AMIB nasceu em 2008, com o objetivo de integrar o farmacêutico à equipe multiprofissional da UTI.
Em 2010, a Anvisa definiu os requisitos mínimos para o funcionamento de UTIs, reconheceu o farmacêutico como membro da equipe multidisciplinar e estabeleceu a necessidade da assistência farmacêutica à beira do leito.
O Conselho Federal de Farmácia, através da Resolução nº 675, de 31 de outubro de 2019, determina as atribuições do farmacêutico clínico em UTI, como prevenir, identificar, avaliar, intervir e monitorar incidentes associados aos medicamentos e a outros problemas referentes à farmacoterapia e demais produtos utilizados na assistência ao paciente; Integrar a equipe multiprofissional da UTI; Estabelecer uma relação de cuidado centrado no paciente; Participar das visitas multiprofissionais, discutindo os casos dos pacientes e colaborando com a elaboração do plano terapêutico, conforme a rotina da unidade; entre outros.
Dra. Gisele Lemos, de 39 anos, é farmacêutica e docente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde leciona Farmácia Clínica I e Segurança do Paciente no Programa de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência e Estágio Supervisionado em Dispensação Farmacêutica na graduação, e defende que a presença e atuação do profissional farmacêutico é essencial para os pacientes em UTIs e Emergências. A universidade em que Dra. Gisele atua oferece em parceria com o Hospital Geral Prado Valadares (HGPV), no município de Jequié, o Programa de Residência Multiprofissional desenvolvendo o serviço de Farmácia Clínica nos setores da Emergência e UTIs.
Segundo o site do Governo do Estado, o HGPV recebeu a quarta turma de Residência Multiprofissional em março de 2021. Na Residência, a formação é dividida entre teoria e prática, com predominância na assistência aos usuários, pacientes e seus familiares. A formação tem duração de dois anos. Na parte teórica, são abordados assuntos ligados à saúde em geral. Na parte prática, os residentes atuam na assistência aos usuários, pacientes e seus familiares, sendo orientados pelos preceptores, responsáveis por apresentar todos os processos, procedimentos e protocolos, destacando a importância da colaboração permanente entre os membros de todas as equipes clínicas.
Confira uma entrevista com Dra. Gisele Lemos a respeito da atuação dos farmacêuticos em UTIs e Emergências.
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1. Qual é a importância do profissional farmacêutico nas Unidades de Terapia Intensiva nos hospitais?
R: O profissional farmacêutico é essencial na equipe multiprofissional que compõe as Unidades de Terapia Intensiva, realizando o acompanhamento da farmacoterapia do paciente e sua evolução clínica. Hoje, no programa de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência da Uesb em parceria com o HGPV adotamos uma ferramenta comprovada que garante um cuidado ao paciente crítico. Essa ferramenta é denominada FASTHUG MAIDENS (dê um abraço todos os dias em seu paciente) adaptada para Farmácia. Com essa ferramenta o farmacêutico verifica a dieta em uso (e suas interferências na administração e ação do medicamento), analgesia, sedação, necessidade de tromboprofilaxia (anticoagulação), avalia a presença de delirium no paciente, profilaxia de úlcera gástrica, realiza o controle da glicemia, processa a conciliação medicamentosa avaliando a necessidade de manutenção de medicamentos que o paciente faz uso em casa ou dentro do hospital, acompanha o uso de antimicrobianos, aprecia a indicação e dose dos medicamentos prescritos, avalia exames laboratoriais como eletrólitos, hemograma e outros, sinaliza interações medicamentosas potenciais e clínicas, alergias, duplicidades terapêuticas e reações adversas, além de acompanhar a uso de medicamentos que necessitam de um tempo de tratamento restrito, como os antimicrobianos e corticóides, por exemplo.
2. Como essa pandemia ressaltou que o farmacêutico é essencial nas UTIs de hospitais e em outros espaços?
R: O paciente com Covid-19, internado em UTI, geralmente está em um quadro clínico grave. O profissional farmacêutico se faz essencial no acompanhamento da dose e indicação de medicamentos analgésicos, sedativos e bloqueadores neuromuscalares, uma vez que esses fármacos permitem a intubação e conforto na ventilação mecânica do paciente, de uma forma que esse seja ventilado sem dor e de maneira a ter os melhores parâmetros ventilatórios, em um momento em vivenciamos uma crise pela falta desses medicamentos tão essenciais na terapia. Além disso, a Covid-19 causa uma microcoagulação intravascular disseminada fazendo necessário o uso do anticoagulante, um medicamento potencialmente perigoso que deve ter a sua efetividade e segurança acompanhada. Um paciente crítico faz uso de vários medicamentos ao dia, portanto está sujeito a várias interações medicamentosas potenciais e reações adversas. Enfim é um paciente que necessita de um acompanhamento desse profissional para que tenha uma terapia efetiva e segura, evitando mais danos ao paciente.
Acredito que atuação do profissional Farmacêutico na pandemia transcende as UTIs, quando verificamos o uso de medicamentos sem eficácia e acompanhamento de um profissional de saúde, gerando reações adversas graves que podem gerar danos irreparáveis aos usuários, portanto a educação em saúde e a dispensação farmacêutica são atribuições muito importantes neste momento.
3. De que forma o farmacêutico pode se inserir na área de terapia intensiva?
R: Hoje a Resolução 675/ 2019 do Conselho Federal de Farmácia já orienta um profissional Farmacêutico para cada 15 leitos de terapia intensiva. As instituições de saúde que buscam a acreditação como melhoria da Qualidade da Assistência devem ter obrigatoriamente profissionais farmacêuticos dedicados a Farmácia Clínica em diversos setores, principalmente para pacientes críticos de UTI, pois já está comprovado cientificamente que a presença do Farmacêutico reduz o número de eventos adversos (danos) associados a medicamentos e que os pacientes apresentam melhora dos desfechos clínicos quando são acompanhados por esses profissionais. Acredito que a divulgação do trabalho clínico do farmacêutico, assim como o aumento no número de Residências Multiprofissionais com a presença do Farmacêutico podem ajudar na inserção do profissional nessa área.
4. Quais são as responsabilidades dos farmacêuticos que atuam em UTIs e Emergências?
R: As responsabilidades dos profissionais que atuam nestes setores devem ser aquelas que promovam um melhor cuidado a pacientes, família e comunidade, tendo como centro de sua assistência o “paciente” e a promoção de sua saúde.
5. Quais são os maiores desafios para os farmacêuticos nas Unidades de Terapia e Intensiva?
R: Os maiores desafios que ainda enfrentamos na inserção do Profissional Farmacêutico em unidades de cuidado são o desconhecimento por parte da equipe multiprofissional sobre o nosso trabalho e a formação acadêmica que ainda é falha no que tange o desenvolvimento de habilidades e competências para a atuação do profissional Farmacêutico em UTIs e Emergências
6. A Resolução nº 7 da Anvisa, de 24 de fevereiro de 2010, diz, entre outras coisas, que a assistência farmacêutica deve ser garantida por meios próprios ou terceirizados. De acordo com a sua visão e experiência, essa resolução está sendo cumprida? O que pode ser feito para que mais farmacêuticos sejam inseridos nas UTIs e Emergências?
R: Infelizmente a assistência farmacêutica a beira leito ainda é oferecida em poucas instituições de saúde. Hoje identificamos essa a assistência em hospitais vinculados a universidades públicas, hospitais que possuem certificação de qualidade por processo de acreditação, hospitais que possuem Residências Multiprofissionais. Faz-se necessário uma cobrança por parte da equipe de vigilância sanitária, segurança do paciente e Conselhos de Farmácia para que essa assistência possa beneficiar todos os pacientes em diferentes instituições de saúde.
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Ter a visão de uma pessoa que atua nessa área diariamente é importante, então a Ascom do CRF-BA entrou em contato com a Dra. Ana Mercia Silva Mascarenhas, de 26 anos, que atua como farmacêutica hospitalar e clínica no Hospital Geral Prado Valadares. Para ela, a atuação do farmacêutico na UTI “é ponto chave para garantia da eficácia e segurança na farmacoterapia dos pacientes críticos. Pensando na polimedicação do paciente crítico, o farmacêutico tem o papel de auxiliar a equipe multiprofissional na otimização desse tratamento e prevenção de efeitos adversos e/ou indesejáveis, proporcionando melhores desfechos e diminuição do tempo de internamento.”
Dra. Ana Mercia garante que o farmacêutico contribui não somente na avaliação das prescrições médicas, ou auxílio à equipe de enfermagem, mas também na avaliação do paciente à beira do leito como um todo, com o objetivo de checar melhorias no tratamento desse paciente. Ela ainda aponta que “os maiores desafios atualmente são quantidade de profissionais para quantidade de leitos de UTI; profissionais qualificados na área; aceitação do papel do farmacêutico em contribuir com a terapia dos pacientes pela equipe multiprofissional e uso de ferramentas adequadas de auxílio a decisão clínica.”
Fontes:
RESOLUÇÃO Nº 675, DE 31 DE OUTUBRO DE 2019
Secretaria de Saúde | Governo do Estado
RESOLUÇÃO – RDC Nº7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010