Colesterol pode ter medicamento revolucionário
Mutação rara provoca corrida entre três companhias por remédio que simula os efeitos da mutação, reduz o nível do LDL a um novo limite inferior e previne ataques cardíacos
A descrição é básica: professora de aeróbica de 32 anos, morando em um subúrbio de Dallas, saudável, com diploma universitário e duas crianças pequenas – nada extraordinário, a não ser por uma coisa. O colesterol era assombrosamente baixo. A lipoproteína de baixa densidade (LDL, na sigla em inglês), a forma que promove doenças cardíacas, era 14, nível desconhecido em adultos saudáveis, cujo índice normal fica acima de cem. O motivo era uma rara mutação genética herdada dos pais. Somente mais uma pessoa, uma jovem zimbabuana saudável cujo colesterol LDL era 15, fora encontrada com a mesma mutação.
A descoberta da mutação e das duas mulheres com taxas assustadoramente baixas de LDL desencadearam uma das maiores caçadas médicas de todos os tempos. É uma corrida febril entre três companhias farmacêuticas – Amgen e Pfizer, ambas dos Estados Unidos, e Sanofi, da França – para testar e ganhar a aprovação de um remédio que simula os efeitos da mutação, reduz o nível do LDL a um novo limite inferior e previne ataques cardíacos. Os três laboratórios têm medicamentos em estudos clínicos e informam que os resultados, por enquanto, são animadores.
Por ora, pessoas com taxas de colesterol alto que não baixavam com a terapia convencional estão ingerindo os medicamentos em estudos preliminares e viram seus níveis de LDL despencarem de patamares muito acima de cem para 50, 40 e até menos. A exemplo da insulina para o diabetes, os remédios são injetados, mas uma ou duas vezes por mês.
As seguradoras costumam pagar os remédios aprovados pela FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos, e o número de pessoas que podem se beneficiar com esses medicamentos para colesterol deixam comendo poeira as que são auxiliadas pelas drogas biológicas anticancerígenas. Além disso, caso as drogas sejam utilizadas, os pesquisadores se perguntam se o colesterol pode ficar baixo demais.
Os dados sinalizaram benefícios cada vez maiores com níveis de LDL reduzidos, disse o Dr. Daniel J. Rader, pesquisador de colesterol da Universidade da Pensilvânia e consultor da Sanofi no desenvolvimento de seu remédio. “Se eu tivesse uma doença coronária, certamente tentaria deixar meu LDL bastante abaixo de 50″, disse Rader. Porém, segundo o diretor do Instituto Nacional de Coração, Pulmão e Sangue dos EUA, Dr. Gary H. Gibbons, com o nível do LDL caindo para um patamar tão baixo nos estudos, “nós estamos penetrando território desconhecido”.
As companhias farmacêuticas querem estar preparadas com grandes quantidades de suas versões da medicação caso estas sejam aprovadas. A Amgen já construiu três fábricas, no Colorado, Porto Rico e Rhode Island, para produzir o remédio. A empresa está antecipando a produção em uma escala nunca tentada antes com um anticorpo monoclonal, uma aposta elevada para uma medicação ainda na fase de testes.
Fonte: Gina Kolata – The New York Times (NYT)